Entrevista para a revista Ritmo e Melodia

Entrevista para a revista musical Ritmo Melodia. (2014)

Perguntas:

1-) Ritmo Melodia – Qual sua data de nascimento e sua cidade natal?

Nasci em 10 de Maio de 1964, em Porto Alegre – RS

2-) RM – Fale do seu primeiro contato com a música?

Minha mãe comprou um órgão para ela e minhas irmãs estudarem música. Eu tinha 8 anos de idade. Um dia, ela estava chegando em casa, qdo ouviu da Rua o som de alguém tocando o órgão; na verdade ela percebeu que era uma melodia executada por alguém que sabia o que estava fazendo; ela pensou se tratar de alguma amiguinha de minhas irmãs, já que elas não se encontravam em casa e sim na escola; qdo ela foi verificar se havia alguém na sala tocando, pra surpresa dela, lá estava eu, com 8 anos de idade, tocando uma linha melódica e não batucando no instrumento como fariam outras crianças “normalmente”. Ela ficou de longe me observando e, sempre que eu queria tocar, ela deixava e não me repreendia; logo depois ela comprou um Piano acústico e, dessa maneira, eu comecei então a compôr musicas; Segundo ela, já comecei a compôr desde os 8 anos de idade.

3-) RM – Qual sua formação musical e/ou acadêmica (dentro ou fora da área musical)?

Na verdade Faculdade mesmo eu fiz de Propaganda e Marketing na ESPM.

Na questão da música, sou praticamente auto-didata; mas, tive a oportunidade de estudar com professoras de piano clássico particulares, destacando a professora Elza Klebanovsk.

Tive uma importante passagem pela escola de música e harmonia moderna fundada pelo Zimbo Trio, o CLAM, que foi uma indicação, na época, do pianista e arranjador do TAMBA TRIO, Luis Eça. Ele me ouviu tocar e me recomendou o CLAM em São Paulo.

Aprendi muita coisa sobre linguagem orquestral com o Maestro e Arranjador Vicente Sálvia, o Vitché. Com ele pude conhecer diferentes estilos de música e suas caracterisitcas. E isso tudo enquadrado na linguagem da Publicidade; como desenvolver e resumir uma idéia em 30 segundos de duração, com destreza, rapidez e objetividade. Foi uma grande escola para mim. Além do Vitché, também pude aprender muito com o magnífico guitarrista Edgar Gianulo. Dois professores maravilhosos, que tive, trabalhando ao lado deles, produzindo e tocando.

Outro nome importante para mim foi o Arranjador e Professor Cláudio Leal Ferreira. Fiz alguns cursos com ele de grande importância na minha formação.

Um outro amigo e parceiro que também me deu importantes dicas musicais, foi o pianista carioca, Luiz Avellar.

Outra grande influência aqui no Brasil também foi o arranjador e pianista César Camargo Mariano.

4-) RM – Quais suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Eu ouvi bastante coisa; tive muitas influências na formação da minha personalidade musical:  música Clássica, MPB, Jazz, música POP, trilhas Sonoras de filmes, Canções Francesas, Canções Italianas, World Music, New Age… Enfim muita coisa. Coisas que meus pais ouviam em casa me influenciaram muito. Meu pai e minha mãe sempre tiveram muito bom gosto musical. Sempre ouviram de tudo. E esses diferentes estilos foram moldando a minha personalidade musical. Meu pai ouvia em casa de Fausto Papetti à George Benson. Minha mãe sempre ouviu muito música erudita e óperas.

Depois disso, fui definindo minhas influências, de acordo com aquilo que eu fui ouvindo, conhecendo e gostando. Músicos como:  Russel Ferrante, Lyle Mays, Eliane Elias, César Camargo Mariano,  Richie Beirach, Hermeto Paschoal, Luiz Avellar, Claire Fisher, Jim Beard, Toninho Horta, Milton Nascimento, Ivan Lins, Wagner Tiso, Lincoln Olivetti, Irmãs Labeque, Quincy Jones, Mario Laginha, Bob Mcferrin, Chick Corea, Joe Zawinull, Mike Stern, Pat Metheny, Michael Brecker, Michel Petrucciani, Flora Purim e tantos outros que se eu for enumerar aqui, não vão caber.

5-) RM – Quando, como e onde você começou sua carreira profissional?

O Primeiro trabalho que posso considerar profissional em minha carreira, foi em 1985, no Teatro Sérgio Cardoso, como arranjador e pianista no show “Não Importa Onde Vã” da cantora paulista Maricenne Costa. Foi incrível ter participado da montagem desse espetáculo. Maricenne é uma cantora e atriz e o repertório desse show era incrível,  moderno, cenicamente surpreendente, com uma banda de 5 músicos no palco, além de um grupo de bailarinos em cena. Espetáculo dirigido por Gilda e Samuel Murray.

Aproximadamente em 1987 entrei como tecladista e vocalista na banda da cantora Jane Duboc, que estava estourada na mídia brasileira com as canções “Chama da Paixão” e “Sonhos”. Foram muitos shows por todo o Brasil. Eu diria que comecei com o pé direito, tendo o privilégio de estar ao lado de uma das maiores vozes da MPB, no auge de sua carreira.

Na area da Publicidade, em 1984, aos 20 anos, ingressei na Escola Superior de Propaganda e Marketing, e, aos 22 anos, por indicação de um professor da própria ESPM, comecei a me aventurar no universo dos Jingles e Trilhas publicitárias, trabalhando como freelancer na produtora de Beto Strada.

Em 1985 surge o convite para trabalhar como criador na Cardan, produtora de som de Vicente Sálvia, o Vitché, um grande colaborador em minha carreira dentro dessa área específica de AUDIO na publicidade; “Essa fase de trabalho na CARDAN foi uma valiosa oportunidade de aprendizado, não apenas pelo convívio com o Vitché, mas também pelo convívio com o criador e instrumentista Edgar Gianullo”.

6-) RM – Quais bandas que você já tocou? (Qual o perfil de cada uma, quem eram os integrantes?)

A primeira Banda que fiz parte se chamava “Ópera Brasil”. Uma banda de Repertório variado, com composiçoes próprias e arranjos diferenciados para cançoes já conhecidas do público. Nos apresentávamos num Bar de MPB no bairro de Santana, em São Paulo, que se chamava Beleléu.
Depois eu fiz parte de um grupo que misturava Rock, Pop e música Japonesa. O Grupo se chamava “O KOTÔ”, liderado pelo Guitarrista gaucho André Fonseca e pela cantora e atriz Cherry Taketa.
Depois eu integrei uma banda que se chamava “Suíte Combo”, onde predominavam covers de músicas conhecidas nacionais e internacionais, além de composições próprias. Faziam parte da banda o produtor e baterista João Marcelo Bôscoli, o cantor Simoninha, O cantor e Guitarrista Marcelo Lima,o Baixista JJ da banda atual de Jorge Benjor e o produtor e Tecladista Bruno Bona.
Na sequência já surgiram artistas como Toquinho, Pedro Camargo Mariano e Zizi Possi. Sendo assim, de grupos propriamente dito, eu não participei mais.

7-) RM – Quantos CDs lançados, quais os anos de lançamento (quais os músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as musicas que entraram no gosto do seu público?

A coleção Música e Natureza (2000), composta por 4 CDs para fins terapêuticos, em que a música se funde com sons da natureza. Os títulos são respectivamente Passarinhos, Baleias e Golfinhos, Floresta e Cosmos.

Tatanka(2001/2002), uma homenagem aos índios das 3 Américas, no estilo World Music.
Participação Especial de “Marlui Miranda”, “Mônica Salmaso”, “Lula Barbosa”, “Simone Guimarães” e “Virgínia Rosa”.

Classicals’n’Bossa (2004), uma seleção de 10 obras da música erudita, relidas em ritmo de bossa nova.

Paisagens do Vento (2004), composições de etnias variadas, que têm o elemento Vento como elo e tônica do trabalho.

Jazz’n’Bossa (2004), uma seleção de 10 tradicionais standards da canção norte-americana arranjados sob a estética do estilo bossa nova.

France’n’Bossa (2005), que reúne num repertório de 13 músicas, verdadeiros clássicos da canção francesa, tais como La vie en Rose, Ne me quitte pás, Je t’aime moi non plus, entre outros.

Delicate Touch of Bossa (2006), coletânea lançada pela PREMIUM RECORDS em parceria com a gravadora Lua Music, em Singapura, que reúne músicas dos CDs France, Jazz e Classicals’n’Bossa.

Em 2009 lança Collection’n’Bossa, pela gravadora Lua Music, reunindo num único BOX seus 3 CDs da coleção ‘n’Bossa, que são respectivamente Jazz’n’Bossa, France’n’Bossa e Classicals’n’Bossa.

Em 2010 lança pela gravadora Lua Music o CD PAISAGENS, em parceria com a empresária Cristina Carvalho Pinto e a empresa Conteúdos com Conteúdo. Um Trabalho em estilo Word Music que passa por diferentes culturas de praticamente todos os continentes. Permeado pelos quatros elementos, Terra, Fogo, Ar e Água, o CD PAISAGENS é uma declarada homenagem ao planeta Terra e, de fato, propõe ao ouvinte um mergulho na riqueza e diversidade sonora de nosso Planeta.

* É curioso observar que mesmo tendo um trabalho de atuação bem diverso, fazendo arranjos para importantes artistas da música brasileira, praticamente de elite (Gal Costa, Jane Duboc, Zizi Possi, Ivan Lins, Toquinho, Virgínia Rodrigues, etc…), os meus trabalhos que mais são lembrados pelas pessoas, ou seja, pelo meu público, são as coletâneas ‘n’bossa, principalmente a coleção que reúne os Clássicos da música erudita e tb a coleção “música e natureza”, que tem foco na música terapéutica. São os trabalhos que mais se “popularizaram”.

8-) RM – Como você define seu estilo musical?

Eu me considero um músico eclético. Como minha carreira sempre girou em torno da música para a Publicidade e TV, eu fui obrigado a ter que criar praticamente todos os estilos de música, pois esse canal do mercado exige isso de você, por ter um linguagem aboslutamente diversa. A publicidade pode se expressar através de muitos estilos. Da música Erudita ao Reagge. Da World Music à música Eletrônica. A publicidade tem uma linguagem muito parecida com a linguagem do cinema. E eu acabei incorporando essa versatilidade ao meu trabalho próprio como arranjador, compositor, pianista e produtor musical. Eu me considero eclético, versátil, multi funcional. Sei que posso tramitar por diferentes estilos, não apenas pela possibilidade que a minha profissão proporciona, mas também porque gosto de diferentes coisas. Eu gosto de música rural, eu gosto de música erudita, eu gosto de world music, eu gosto de música pop, eu gosto de new age, eu gosto de música eletrônica, eu gosto de canções, eu gosto de música instrumental; enfim, eu gosto e me identifico com diferentes estilos dentro do universo da música.

9-) RM – Como é seu processo de compor?

Não existe uma regra. Depende da ocasição, da necessidade e do que o momento exige.

Na publicidade, por exemplo,  você pode adotar algumas técnicas de criação, mas a verdade é que quando você se depara com um filme na sua frente, absolutamente sem SOM ALGUM, sempre vem aqueles 30 segundos de pânico, do tipo: E agora, que áudio eu ponho nessa imagem. Mas, hoje em dia, normalmente (e infelizmente…), você recebe os filmes montados com uma referência musical que o diretor do filme ou o criativo da agência gostam. A vantagem disso é que se você seguir a referência musical, a possibilidade de aprovação do trabalho é maior; mas isso, sem dúvida, engessa seu trabalho criativo. E também não deixa de ser uma imposição da agência e da produtora de filme. Mas eu não considero a publicidade uma Arte. As equipes envolvidas dos 3 importantes polos que movem uma campanha publicitária, ou seja, a agência, a produtora de filme e a produtora de áudio, estão a serviço de vender um produto; e, no final das contas, pouco interessa ao cliente, se a campanha foi ou não genial; ele quer o resultado em números e em aumento nas suas vendas, de serviços ou produtos, não importa.

No caso de criar trilhas e música incidental para novelas e mini-séries, muitas vezes somos brifados pelos produtores responsáveis por coletar material para servir de suporte para determinadas cenas; o briefing varia, mas geralmente os estilos solicitados são trilhas de Ação, Suspense, Aventura, Romance, Melancolia, Tristesa, Comédia e por aehh afora. Nesse caso fica um pouco mais amplo criar, pois o briefing é mais genérico. Claro que muitas vezes temos que nos basear em referências musicais já existentes, como trilhas de Longa-Metragens já consagrados. Mas, como em muitos casos, se trata de cenas relativamente longas, acabamos criando e disponibilizando AUDIOS de 4 a 5 minutos, com variações de dinâmica, para que os montadores nas finalizações possam escolher os trechos musicais mais adequados para as respectivas cenas.

Na parte de criação de Canções, a ordem “Música e Letra” realmente pode variar bastante; muitas vezes musiquei poesias já prontas; mas eu tenho uma predileção por criar a música primeiro e encaminhá.la à algum parceiro de letra. Eu também posso ter idéias de trechos da letra, que acaba sendo desenvolvida e finalizada pelo parceiro/poeta em questão. Já aconteceu também de eu sonhar com algum trecho da canção, registrar esse trecho e depois finalizar, completando com as partes que faltaram.

É importante observar que, geralmente, quando a música vem na sua cabeça e você está longe do instrumento, essa criação costuma ser mais ‘Livre”, do que quando você está tocando o instrumento e, portanto, condicionando sua criação. Deixa eu explicar: Com a mão no instrumento, você tende a ficar limitado pelos acordes que você já está condicionado a tocar; mas sem o instrumento na frente, sua mente fica mais livre para receber as melodias e harmonias que, de alguma maneira, são inspiradas em você; é como se você “ouvisse” em sua mente esses sons; claro que, um tempo depois, você precisa materializar essas idéias no instrumento; mas o primeiro momento longe do instrumento, é fundamental para que você deixe sua criação fluir mais livre e mais liberta. Para mim, pelo menos, muitas vezes, funciona dessa maneira.

10-) RM – Você compõe canção com letra? Quem já cantou suas canções?

Na minha discografia não tem quase registros de canções com letra compostas apenas por mim ou em parcerias. Mas por uma questão apenas circunstancial. Isso está dentro dos meus próximos projetos e planos futuros; Eu foquei mais minha carreira e discografia na música instrumental, com exceção do CD “Tatanka” que tem canções tradicionais do folclore indígena. Não são letras compostas por mim, mas sim recolhidas do domínio publico e adaptadas.

11-) RM – Quais são seus principais parceiros musicais?

As minhas obras musicais instrumentais, que não são canções com letra, eu não costumo ter parceiros. Mas nas minhas canções com letra, sim,  eu tenho alguns parceiros frequentes, que é o caso do poeta e compositor Carlos Saraiva, com quem trabalhei em 1987 e compus em parceria canções como:  “Sonho Expresso”, gravada recentemente pela cantora Tatiana Parra. Também fizemos juntos as canções “Asas” e “New Bossa New”. Com a poeta e escritora Rita Altério, eu compus as canções “Cedo ou Tarde”, gravada pela cantora Daisy Cordeiro e “Filho do Mar”, gravada pela cantora Patrícia Talem. Tenho também uma parceria com o compositor Jair Oliveira, a canção “Timidez”, também gravada pela cantora Patrícia Talem. A cantora Jane Duboc já foi minha parceira de letra na canção “Bonsai” e a cantora Denise Mello foi minha parceira de letra na canção “Contramão”. Algumas vezes eu me aventuro por escrever letras também, como foi o caso de minha parceria com o poeta Sérgio Natureza, na canção “Agnus-dei” e na parceria com os compositores Max Robert e Conrado Goys na canção “No Tom mais que perfeito”.

12-) RM – Você estudou técnica vocal?

Na verdade essa é uma aquisição bem recente na minha vida. Estudei esporadicamente técnica vocal, há uns 4 anos atrás, com a cantora Lucila Novaes e apartir desse ano de 2014, estou estudando canto mais frequentemente e portanto, com um foco mais profissional, com o cantor Wagner Barbosa e com a professora de canto e fonoterapeuta Maria Alvim.

13-) RM – Quais as cantoras(es) que você admira?

Tem muita gente que eu gosto bastante. Muita gente mesmo. Se for enumerar aqui, não vou parar mais. Sim, tem muita gente que cantou, canta e cantará bem no planeta terra. Mas, pra não alongar demais minha lista, vamos à alguns nomes que eu realmente admiro e gosto de ouvir: Elis Regina, Gal Costa, Laura Pausini, Zizi Possi, Jane Duboc, Patty Austin, Pedro Aznar, Milton Nascimento, Emílio Santiago, Tatiana Parra, Simone Guimarães, Mayra Andrade, Lucila Novaes, Bobby Macferrin, Peable Bryson, Chaka Khan, Djavan, Maria João, Graça Cunha, Whitney Houston, Take 6, Donna Summer, Rosa Passos, Marisa Monte, etc. Recentemente algumas vozes novas realmente muito boas como Filipe Catto, Bruna Moraes, Annatréa e por aehh afora.

14-) RM – Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Esse cenário mudou radicalmente em todo o mundo; pelo menos no Brasil, hoje, você não tem mais gravadoras investindo na totalidade da produção de um CD, como as Majors faziam nos anos 70, 80 e 90. Até porque a instituição “gravadora” também deixou de existir, pelo menos nos moldes como era antes. A pirataria e o advento da internet e das redes sociais, de certa forma, quebrou as pernas desse monopólio de vendas de fonogramas, que migraram do LP, passando pelo CD, até chegar no Mp3 dos dias de hoje. Então o que se lucrava antes com as vendas de discos, deixou de acontecer e as gravadoras também deixaram de ganhar com isso. E essa relação de “dependência” que o artista tinha da gravadora e a gravadora do artista, deixou de existir. Aquela paparicação toda, com os artistas e cantores, acabou, porque não se ganha mais tanto dinheiro com as vendas do CD físico. Hoje você como artista, praticamente entra de “parceiro” dos sêlos que ainda se prontificam a incluir algo em seu catálogo. De um modo geral, o artista praticamente paga tudo do seu bolso e licencia o fonograma ao sêlo, que algumas vezes paga pelos direitos autorais das obras, no caso dos CDs de intérpretes, finaliza a parte gráfica e distribui nos pontos de venda. Alguns sêlos também tem um excelente esquema de vendas e promoção on line, e isso pode ser uma boa pedida para o artista que não tem estrutura e nem nome. Mas isso é muito relativo. Eu diria que realmente cada caso é um caso. Não tem mais regra. Depende do artista, do estilo musical desse artista, da projeção que esse artista tem na mídia, do potencial de venda de fonogramas ainda que pela internet e por aehh vai. São muitas variáveis.

15-) RM – Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

A minha carreira como artista solo não teve uma projeção tão expressiva na mídia de um modo geral, porque eu sempre me dividi bastante com a carreira de outros artistas com quem trabalhei ao longo de minha vida e também porque sempre fui prestador de serviço para produtoras de som e para redes de televisão. Então esse foco ficou comprometido. Porém, mesmo assim, eu não deixei de realizar meus projetos solos e de me dedicar também a organizar minha obra e carreira através de SITES, de Rêdes Sociais, de Blogs, da Internet e por aehh afora. Também investi em acessoria de imprensa, pelo menos nas fases de lançamento dos meus CDs individuais.

16-) RM – Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver sua carreira?

Sites, Rêdes Sociais, Youtube, Facebook, Linkedin, Blogs, Instagran e Acessoria de Imprensa.

17-) RM – O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?

A internet é uma Vitrine Maravilhosa e tem uma capacidade de expandir e romper fronteiras de forma magnífica. O problema que eu vejo é que, como todo mundo tem acesso, a oferta se tornou muito grande em relação à procura. E também, nessa medida, o critério de qualidade ficou comprometido, porque você tem desde coisas incríveis à coisas horríveis. Você migra do Lixo ao Luxo numa velocidade fora do normal. E no meio desse circo todo, fica difícil discernir quem é quem. Mas a grande vantagem é que agora todo mundo pode se expressar. E isso também é muito bom, porque muitos talentos que não teriam esse canal de expressão antes do advento da internet, agora tem.

18-) RM – Quais as vantagens e desvantagens do fácil acesso à tecnologia  de gravação (home studio)?

Tem uma grande vantagem que é a possibilidade de você poder produzir, ou mesmo, pré produzir suas idéias em casa, com um acamento bem mais sofisticado. A coisa problemática é quando as pessoas acham que isso é o suficiente para se tornar um produto acabado. Obviamente que estamos falando de questões que envolvem dinheiro e muito. Uma captação boa de instrumentos acústicos, por exemplo, implica no uso de microfones caros, de uma boa sala com acústica preparada e por aehh afora. E tb tem a questão da masterização final, que envolve equipamentos caros, que são superiores à plugins caseiros. Com certeza isso influencia totalmente o resultado de uma obra musical acabada e finalizada. Faz toda a diferença. Mas é claro que isso está mudando por conta da melhoria da qualidade dos Plugins instalados em Home studios hoje em dia.

19-) RM – No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje em dia não é mais o grande obstáculo. Mas concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para ser diferente dentro do seu nicho musical?

O que realmente eu acho que faz a grande diferença em minha obra e em minha carreira é o cuidado que eu tenho com tudo aquilo que eu produzo. Sou exigente comigo mesmo. Sou muito criterioso; as vezes até demais. Mas, acima de tudo, tento me expressar livremente, não tolindo minhas idéias. E o meu grande crivo é o meu coração. Eu sempre tento me apaixonar por aquilo que eu estou fazendo. Sempre.

20-) RM – Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Essa é uma pergunta difícil de responder, porque muitos fatores podem levar artistas a se desenvolverem em suas trajetórias ou não. Fatores culturais externos, fatores econômicos, fatores emocionais, trajetória de vida, oportunidades que aumentam ou ficam escassas, falta de criatividade, morte súbita e consequente interrupção na carreira, enfim, muitos e muitos fatores. Eu percebo que a música hoje se reinventa, porque tudo já foi feito. Absolutamente tudo. Os eruditos esgotaram as possibilidades. Se você ouve o “Pássaro de Fogo” de Stravinsky, você vai estar diante de uma complexidade e riqueza musical tão exorbitante, que fica complicado comparar com alguma expressão simples de música e letra, sei lá, por exemplo, Raul Seixas. Desculpe, mas não tem nem parâmetro. Então, nessa medida, o que falar da música? Que ela piorou? Que ela regrediu? Ou que são manifestações musicais completamente diferentes? Como você vai comparar Debussy, com Michael Jackson e com Valesca Popozuda ? São coisas completamente distintas, diferentes, com propósitos diferentes, em contextos diferentes, com linguagem diferente. Não há parâmetro de comparação. É burrice comparar isso. Temos que entender que cada uma delas ocupa um lugar. E pronto. Gostar ou não gostar, é outra coisa. Mas dentro dessa música que vem tentando se reinventar o tempo todo, eu percebo que muita coisa boa está surgindo. Ainda que com influências, e todos nós as temos, vejo muitos talentos emergentes. Claro que na minha opinião. Mas sendo bem objetivo agora, da velha guarda, percebo que Caetano Veloso permenece se reinventando, com acertos e erros, mas ele, decididamente, sempre esteve a frente de seu tempo. Gosto de citá.lo como exemplo, porque fiquei muito surpreso com seu show mais recente, Abrassásso.

21-) RM – Como você analisa o cenário da música instrumental brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Praticamente a mesma resposta da pergunta anterior. Pra ser sincero não tenho acompanhado muito essas novas expressões e talentos da música instrumental brasileira. Mas não podemos deixar de lembrar que quem ja fez muito, está liberado pra não fazer tanto mais na idade madura; Dando ressalvas aos que eternizaram suas obras como Hermeto Paschoal, Egberto Gismonti, Sivuca, Dominguinhos, César Camargo Mariano, e tantos outros. Fora os brasileiros que se radicaram fora do Brasil, como Eliane Elias, Airto Moreira, Flora Purim, Eumir Deodato, Sérgio Mendes, Raul de Souza, Naná Vasconcellos, entre muitos outros.

22-) RM – Qual ou quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

A Zizi Possi é uma artista que eu sempre gosto citar como exemplo, porque acho que ela é extremamente focada e cuidadosa com o trabalho dela. Eu aprendi muito com a Zizi nesse sentido, porque percebo que ela persegue com afinco o resultado daquilo que ela está buscando em cada trabalho que realiza. Um artista que eu não trabalhei, mas sempre ouço falar muito bem, é o Ney Matogrosso, por sua pontualidade nos shows, por sua conduta correta ao pagar sua equipe, e por seu profissionalismo de um modo geral. Outro artista que eu também admiro é o Toquinho, por sua dedicação ao seu próprio instrumento. Eu diria que ele só não toma banho com o violão, porque deve ser extremamente desconfortável. rsrsrsrsr. Além do que estraga o instrumento. Mas, se não fosse por isso, ele certamente o faria. Outro artista que também admiro pelo cuidado em suas produções, pela qualidade de suas composições, e pelo empreendedorismo fora do país é o Ivan Lins. Outro cara muito profissional, sério, focado e talentoso é o arranjador César Camargo Mariano.

23-) RM – Quais as situações mais inusitadas que já aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosto, cantar e não receber, ser cantado e etc)?

Tem várias estórias; mas vou selecionar umas duas ou tres, pra não ficar cansativo. Uma bastante curiosa foi qdo trabalhei com o cantor fábio Junior; Tenho algo curioso para contar sobre o Fábio: durante os ensaios, pelo menos nessa época, ia um outro cantor ensaiar com a banda, no lugar dele, com o timbre extremamente parecido; uma espécie de ‘’Fábio Júnior cover’’. O mais curioso é que esse rapaz era de origem japonesa. O Fábio só apareceu pessoalmente nos dois últimos dias de ensaio, para conferir como andavam as coisas, antes do início da turnê.

Outra estória engraçada, foi uma vez que eu estava fazendo show com a cantora Jane Duboc e começou a dar um problema técnico no microfone dela e, consequentemente, sua voz parou de ser reproduzida. Começou um alvoroço entre a platéia e as pessoas começaram a reclamar e a colocar a culpa na própria Jane. Nenhuma pessoa da parte técnica do local do show, se manifestou para esclarecer o mal entendido; eu não tive dúvida: vendo a Jane passar por aquele constrangimento, eu levantei do teclado, fui até o lado dela e pedi que ela se retirasse do palco, para não ter que se submeter aquela situação embaraçosa. Quando ela se retirou do palco eu comecei a pedir que tomassem providências, mas meio que aos gritos, porque não tinha microfone pra isso. Foi uma situação bem desagradável e cômica ao mesmo tempo.

Com a Zizi tem uma estória engraçada também; durante os ensaios, num tom de brincadeira é claro, eu gostava de ficar imitando alguns cantores conhecidos, interpretando as próprias canções que foram sucesso na voz da Zizi. Entre eles o Fabio Júnior, a Simone, a Ney Matogrosso, a Roberta Miranda… Um dia, num show em pleno Pálace, a Zizi, num determinado momento do espetáculo, disse ao público que tinha convidados especiais que participariam do show com ela. Bem, eu nem desconfiava que ela iria pedir pra eu imitar essa turma toda; pra minha surpresa, o iluminador colocou sobre mim um foco de luz e Zizi me apresentou. Adivinha? Tive que imitar todo mundo.

24-) RM – O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Minha plena felicidade é poder viver de música nesse país de uma forma digna, equilibrada, com uma carreira na qual eu construí todo um alicerce,  que me possibilitou conquistar as coisas mais importantes da minha vida, entre elas, minha estabilidade financeira de um modo geral. Se tem alguma alguma frustração, foi o fato de eu não poder ter estudado fora do Brasil como era meu desejo. Mas, enfim, as coisas tem que acontecer da forma como elas são. E tb não posso deixar de lembrar que nossas vidas são feitas de nossas escolhas e, num determinado momento, eu escolhi não trocar o certo pelo duvidoso. Acho que por isso minha vida tomou um rumo X e não um rumo Y. Mas, não importa qual seja esse rumo, eu me orgulho do que “pude” escolher.

25-) RM – Nos apresente a cena musical da cidade que você mora?

São Paulo é uma cidade surpreendente, e muitas coisas acontecem por aqui ao mesmo tempo, em diferentes espaços dedicados à arte de um modo geral. Vai de A à Z. Infelizmente, no que se refere à  música, muitos locais mais tradicionais acabaram fechando as portas e acredito que isso esteja diretamente ligado à questão econômica/cultural da cidade, e porque não dizer do país como um todo. Também conta o fato de alguns estabelecimentos e mesmo empresas de shows que trazem atrações internacionais, estarem praticando preços exorbitantes; isso afugenta o público menos favorecido economicamente, que acaba procurando espaços públicos de arte gratuita ou os eventos culturais promovidos pela prefeitura; São Paulo é uma cidade até que bastante favorecida nesse sentido; a VIRADA CULTURAL, por exemplo, tem tido uma resposta positiva do público, cada vez maior e já é um sucesso com direito a reedições anuais desde a sua estréia. Um bairro também bastante importante na vida cultural da cidade é a Vila Madalena, com seus bares casuais, que acabam sendo o refúgio dos que gostam das opções um pouco mais “alternativas” da cidade, como Jazz, música instrumental, MPB, espaços para samba e chorinho, e por aí afora. Os Teatros dos SESCs também acabaram se tornando os espaços mais disputados da cidade entre artistas de maior renome e os não tão conhecidos assim, que, infelizmente, acabam sendo menos privilegiados. Outra boa opção que também tras com frequência artistas internacionais, é a casa de Shows no bairro de Moema, Bourbon Street. Outro importante espaço que tem aberto suas portas também para os novos talentos, é a casa de show TOM JAZZ, na Av Angêlica. Fora as tradicionais e maiores casas de espetáculo, como o HSBC Brasil e o City Bank Hall, por exemplo.

26-) RM – Quais os músicos, bandas da cidade que você mora, que você indicaria como uma boa opção?

Difícil resumir São Paulo e sua cena cultural em apenas alguns grupos de música ou cantores ou bares. Tem muita coisa boa acontecendo na cidade, que fomenta uma diversidade cultural incrível. Se eu fosse listar aqui os artistas que gosto e recomendo, eu teria logo de cara o grande desafio do tamanho da lista e também da rotatividade desses eventos que nem sempre permanecem em cartaz por um longo tempo. Nesse ponto, São Paulo não é Nova York, que consegue sustentar.se como a capital cultural do mundo. Aqui a rotatividade dos espetáculos, shows e eventos, é muito grande, inclusive pela impossibilidade de temporadas longas por falta de recusrsos. Mas, dentro de idas e vindas, eu poderia destacar alguns grupos que de alguma maneira sempre estão “dando as caras”. A Banda Mantiqueira dirigida pelo músico e arranjador Nailor Proveta é uma dessas atrações. Outra boa atração da cidade é a mini big band Sound Scape. Um incrível evento de samba que eu também super recomendo, é o famoso “Samba da Vela”, com rodas de samba que duram enquanto a vela não se apaga. Na Vila Madalena, ainda que de forma itinerante, é possível se ouvir música instrumental da melhor qualidade. O famoso Bar Brahma, na tradicional esquina da avenida Ipiranga com a avenida São João, também tras artistas mais tradicionais como Cauby Peixoto e Ângela Maria. Outro espaço mais alternativo, que tem aberto as portas para promover encontros musicais, recitais e workshops é o espaço “Núcleo contemporâneo”, dirigido por Benjamin Taubkin.

27-) RM – Você acredita que sua música tocará nas rádios sem o jabá?

Pra dizer bem a verdade eu não tenho essa preocupação. Pra mim o mais importante é realizar. O rumo que minha obra vai tomar, depende de muitos fatores. Mas penso que “minha parte” foi feita. A obra está aí pra quem quiser ouvir. Com a internet então, tudo ficou mais fácil e acessível.

28-) RM – O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Acredite no seu sonho, mas o tempo todo fique com a cabeça no lúdico e os pés bem fincados no chão. Você tem que criar condições de realizar e concretizar seu projeto. Não se iluda, porque o sucesso tem que ser uma consequência natural das coisas. E ele pode ou não vir. Mas, o que é o sucesso? E eu te digo: O sucesso é você se sentir realizado pelo que fez, pelo o que pode fazer e pelo o que você acreditou que podia fazer. O sucesso é você ir dormir orgulhoso por ter feito sempre o seu melhor. Faça sempre o seu melhor. Mas faça sempre o que você gosta. Nunca abra mão disso. Porque isso vai te manter vivo, não importa o que aconteça.

29-)  RM – Como se iniciaram a suas experiências como arranjador e pianista?

Aos 23 anos, começaram, de fato, minhas primeiras experiências musicais profissionais como arranjador e pianista, ao lado de alguns amigos e profissionais da música, como as cantoras Maricenne Costa, Nancy Alves, Vanda Breder, a baiana Vera Sodré e os compositores Carlos Saraiva e Zé Rocha (este do estado de Pernambuco). Paralelamente a essas atividades, surge o convite para trabalhar como criador na Cardan, produtora de som de Vicente Sálvia, o Vitché, um grande colaborador em minha carreira: ‘’Este contato foi uma valiosa oportunidade de aprendizado, não apenas pelo convívio com Vitché, mas também pelo convívio com o criador e instrumentista Edgar Gianullo.

30-) RM – Como foi sua formação como pianista?

Estudos de piano erudito com professores em casa, ainda na infância. Depois, na adolescência, já numa fase de busca por uma técnica mais profissional, eu entrei na escola de música do Zimbo Trio, o CLAM, por indicação do maestro e pianista Luis Eça. Depois disso, fiz cursos de arranjo e Harmonia com os professores Ricardo Brein e Cláudio Leal Ferreira.

31-) RM – Quais os pianistas de sua preferência?

Muitos. Só pra começar: Russel Ferrante, Lyle Mays, Jim Beard, Eliane Alias, Herbie Hancock, Claire Fischer, Egberto Gismonti, Luiz Avelar, César Camargo Mariano, Don Grolnick, Kenny Kirkland, Katia Labeque, Hermeto Paschoal, Richie Beirach, etc.

32-) RM – Como começou seu trabalho com Jingles e Trilhas publicitárias?

Aos 22 anos, por indicação de um professor da própria ESPM, comecei a me aventurar no universo dos Jingles e Trilhas publicitárias, trabalhando como freelancer na produtora de Beto Strada.

Aos 23 anos surge o convite para trabalhar como criador na Cardan, produtora de som de Vicente Sálvia, o Vitché, um grande colaborador em sua carreira: ‘’Este contato foi uma valiosa oportunidade de aprendizado, não apenas pelo convívio com Vitché, mas também pelo convívio com o criador e instrumentista Edgar Gianullo. Em setembro de 1999, comecei a trabalhar oficialmente como criador e produtor de trilhas e jingles publicitários, na produtora de som Lua Nova, de Thomas Roth.

33-) RM – Quais as semelhanças e diferenças da composição tradicional e dos Jingles e Trilhas publicitárias?

A música feita para a publicidade e para a televisão (Aberturas de programas, Vinhetas e tal) é uma música que está a favor de uma mensagem específica. O foco principal é essa mensagem e o que pretende passar essa mensagem. O que está por trás dessa mensagem é um produto ou um serviço ou uma idéia. E isso está em primeiríssimo plano. A música tem que estar a favor disso. Muitas vezes a música está também pontuando ou dialogando com uma imagem, caso esteja atrelada a algum filme. E, numa parceria com essa imagem, ela precisa se expressar num tempo bem específico. Na maioria das vezes, num tempo padrão bastante breve, que se convencionou por exemplo, como sendo 30 segundos na publicidade. Claro que em campanhas publicitárias mais robustas, muitas vezes o primeiro filme que vai ao ar tem 1 minuto ou 2, com desdobramentos para 45, 30 e 15 segundos. Mas isso nem sempre é possível, principalmente quando se trata de clientes menos favorecidos financeiramente. Essa música tem que “dizer ao que veio”, ou seja, desenvolver e passar a mensagem de uma forma ultra condensada. Isso se comparar.mos essa forma de expressão musical com uma canção tradicional de 4 minutos ou mesmo com uma obra instrumental de 5 minutos. Foge totalmente aos padrões. O Jingle e a trilha tem que ser breves e objetivos. O entendimento da idéia precisa ser muito claro e, nesse caso, a música ajuda muito, poque é o som que está apoiando aquela imagem específica. Mas tem muitas variações disso. Os Spots de rádio por exemplo, não tem imagem atrelada. E também existem as vinhetas de abertura de programas de TV, que em geral duram menos tempo ainda; cerca de 5 a 7 segundos. São mais resumidas ainda. É sem dúvida uma linguagem muito específica e porque não dizer única e técnica. É complexo você expressar uma idéia compilada em tão pouco tempo, com completude. Mas com técnica se consegue isso. O desenvolvimento e a prática dessa técnica, trás a destreza no desempenho da profissão.

34-) RM – Quais as influências da composição tradicional que você trás ao compor os Jingles e Trilhas publicitárias?

Na verdade a publicidade é completamente movida pela arte, mesmo se tratando, a grosso modo, da venda de um produto ou serviço ou idéia. Quase tudo em publicidade se baseia na arte de um modo geral. Por isso, na maiorida das vezes, quando somos “brifados” por clientes,  pessoal de RTV, criativos da campanha e tal, as referências são de músicas que já existem, que já são sucesso, que já são conhecidas. Porque isso acaba gerando no público uma identidade com a campanha. Ainda que inconscientemente. É mais ou menos como se a publicidade se apropriasse da arte para se expressar. Mas eu decididamente não considero a publicidade uma arte. A publicidade se utiliza da arte. De uma forma até indiscriminada. Mas o objetivo final é vender um produto, um serviço ou uma idéia. Não é a arte pela arte. A publicidade tenta passar a falsa idéia de que você está consumindo arte. Mas esse é um dos seus subterfúgios.

35-) RM – Quais as influências dos Jingles e Trilhas publicitárias que você leva para as suas composições musicais?

Na verdade o único trunfo que a publicidade me trás é a diversidade de estilos que preciso transitar, por conta da linguagem artística diversificada que ela utiliza. E isso é um grande desafio que, claro, amplia meu repertório e porque não dizer, minha percepção do mundo de um modo geral. A publicidade caminha estreita e intimamente com a tecnologia, com as novas tendências, com a modernidade; e também com tudo que de alguma forma nega tudo isso. Essa transgressão é que me fascina na publicidade que, na verdade, vem da arte da qual ela se apropria. Esse é o ganho. Por outro lado, é fundamental separar uma coisa da outra; a linguagem técnica e específica para se criar uma peça publicitária, deve ser completamente deixada de lado quando se vai compor em qualquer outra circunstância que não seja a publicidade. Pode ser perigoso não conseguir se expressar de outra forma que não essa. Isso pode nos deixar viciados. Por isso o exercício de se criar fora desses padrões é fundamental pra qualquer um que, por exemplo, tem uma carreira artística paralela a atividade publicitária.

36-) RM – Fale do seu contato pessoal e profissional com Toquinho?

Meu primeiro encontro com Toquinho foi em 1996, quando fui procurado por ele para fazer a direção musical e adaptação para os palcos de seu CD comemorativo de 30 anos de carreira. Nesse mesmo ano excursionamos pelo Brasil, levando esse espetáculo para as principais capitais. Em 1997, excursionei pela Itália, ao lado de Toquinho: ‘’Tive o privilégio de conhecer a Itália por intermédio dele; ele tem um enorme prestígio por lá’’. Eu estive 2 vezes na Itália com Toquinho. A primeira vez nós excursionamos pelo norte da Itália e na segunda pelo Sul da Itália. Isso tudo aconteceu entre os anos de 96 e 97. Quando Toquinho completou 40 anos de carreira, fui novamente convidado para participar do seu espetáculo, mas dessa vez como tecladista ao lado da pianista e diretora musical Silvia Góes. Uma das coisas que eu mais admiro no Toquinho é a sua intimidade e dedicação ao seu instrumento, o violão. E também eu admiro muito o seu lado humano. Uma pessoa notoriamente generosa.

37-) RM – Fale do seu contato pessoal e profissional com João Marcello Bôscoli?

Eu me aproximei efetivamente do João Marcelo Bôscoli atravês do músico e amigo Simoninha. Aos 25 anos, passei a integrar a banda Suíte Combo, formada pelos até então iniciantes João Marcelo Bôscoli, Simoninha, Marcelo Lima e JJ Lucrécio. Foi uma fase muito divertida: ‘’Eu me lembro que às vezes o João reunia todos os lucros de algumas apresentações da banda, só pra me pagar, pois eu era o único músico profissional do grupo’’.  Depois desse convívio que durou uns bons anos, mais especificamente em outubro de 1994, assumi a direção musical do programa de televisão ‘’Cia. da Música’’, ao lado do João, na rede de TV CNT Gazeta: O ‘’Cia. da Música’’ foi uma grande escola para mim. Nós, eu e a banda do ‘’Cia.’’, tínhamos apenas dois dias para preparar e ensaiar todas as músicas que seriam gravadas ao lado dos artistas convidados, que, praticamente, só ouviam os arranjos um pouco antes da gravação definitiva. Eu, sinceramente, não me lembro de nenhuma recusa ou reclamação por parte deles. Quando o artista ou seu produtor me pediam fidelidade à gravação original, nós reproduzíamos o arranjo tal e qual; mas, quando eu tinha liberdade de reinventar, eu aproveitava ao máximo o espaço que me davam. A banda era sempre muito elogiada e, nessa empreitada, eu acabei arranjando e acompanhando um número considerável de celebridades da música popular brasileira, como Milton Nascimento, Flávio Venturini, Leila Pinheiro, Jane Duboc, Ivan Lins, João Bosco, Luiz Melodia, Elza Soares, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Raul de Souza, Rosa Passos, Ed Mota, Baby do Brasil, Fátima Guedes, Joyce, Zélia Duncan, Cássia Eller, Ná Ozzeti, Chico Cézar, Danilo Caymmi, Verônica Sabino, Wagner Tiso, Sivuca, Pepeu Gomes, Luiz Caldas, Daúde, Pedro Mariano, Simoninha, entre outros expressivos nomes.

38-) RM – Fale do seu contato pessoal e profissional com Jane Duboc?

Eu comecei a trabalhar com a Jane Duboc em 1988, quando eu tinha 24 anos, indicado pelo seu então cunhado Vicente Sálvia, o Vitché, dono da produtora CARDAN. Jane estava precisando de um tecladista para excursionar com sua  banda pelo Brasil, em sua fase radiofônica mais significativa, com os sucessos “Chama da Paixão” e “Sonhos” tocando em praticamente todas as radios importantes do país. Jane estava bombando na mídia radiofônica e televisiva. Apartir daí, entre idas e vindas, fiz muitos projetos musicais importantes ao lado da Jane. Gostaria de destacar o show “Tríade”, apresentado no Centro Cultural São Paulo e o show em homenagem ao compositor Flávio Venturini, apresentado do Sesc Pompéia. Jane é minha grande amiga, uma artista importantíssima na minha trajetória musical, grande influência musical, grande musa, grande exemplo de vida e de carreira. Até hoje temos uma ligação fortíssima, que transcende a música. Jane é irmã de alma.

39-) RM – Fale do seu contato pessoal e profissional com Thomas Roth?

Eu comecei a trabalhar oficialmente na produtora de som LUA NOVA, de Thomas Roth, em 1999; eu ja havia feito muitos trabalhos com o Thomas, mas como free lancer. Em 99 Thomas e seu sócio Júlio Moschen me convidaram para  fazer parte do corpo de criadores e produtores oficiais da produtora. Foi um longo casamento que durou quase 10 anos. A experiência adquirida como profissional de publicidade nos anos que permaneci na LUA NOVA, foi fudamental na minha formação e no meu aprimoramento. Eu aprendi muita coisa importante nesses anos todos. Além do que, o Thomas foi peça chave e fundamental em duas grandes conquistas da minha vida: a possibilidade de formar uma discografia dedicada a minha carreira solo pela gravadora LUA MUSIC e a minha contratação em 2007 pela REDE RECORD de televisão como produtor musical exclusivo para o canal de jornalismo 24 horas RECORD NEWS, por intermédio do então diretor musical da emissora, Márcio Antonucci.

40-) RM – Fale do seu contato pessoal e profissional com Gal Costa?

Em 2005, eu fui indicado pelo pianista e arranjador César Camargo Mariano para compor a nova banda da cantora Gal Costa, exatamente na época em que Gal completa 60 anos, entra para o casting da gravadora paulista Trama e sai em turnê nacional apresentando o show do CD ‘’Hoje’’.  César, arranjador e produtor musical do CD, na impossibilidade de excursionar ao lado de Gal, acabou me indicando como pianista e arranjador, em seu lugar. Em 2006 excursionei com Gal, ainda apresentando o show do CD HOJE, por Londres, Espanha, Alemanha, Suíça, Portugal, Itália, México e Paraguay. Pessoalmente posso dizer que Gal é doce, amável e extremamente musical.

41-) RM – Fale do seu contato pessoal e profissional com Ângela Maria?

No ano de 2003 eu recebi um presente da gravadora LUA MUSIC. Fui convidado para trabalhar ao lado da cantora Ângela Maria, produzindo, arranjando, dirigindo e executando o CD comemorativo dos 50 anos de carreira da cantora. Foi uma experiência inesquecível. Ângela é uma diva, com uma carga dramática e interpretativa que beira o impressionante. Um ícone da sua geração. Eu me senti muito honrado e também muito acolhido por essa grande artista e pessoa. Pelos os meus cálculos, se Ângela não produziu mais nada de lá para cá, esse foi o penúltimo CD de sua brilhante carreira.

42-) RM – Fale do seu contato pessoal e profissional com César Camargo Mariano?

Meu primeiro contato pessoal com César Camargo Mariano foi em 1990, quando eu tinha 26 anos. Foi por intermédio de João Marcelo Bôscoli, que na época ainda morava com César, que já era casado com Flávia Rodrigues, sua atual esposa. Desde essa época que eu comecei a estreitar meu contato com César e nutrir uma grande admiração por esse incrível músico e arranjador. Obviamente que meu convívio musical com seus 2 filhos João Marcelo e Pedro Mariano, fortificou e consolidou essa aproximação e consequente relação. Com o passar dos anos César demonstrou também uma admiração por meu trabalho musical que culminou na sua indicação para eu trabalhar com Gal Costa, como pianista, em 2005. Sou muito grato à César pela relação afetuosa e de grande respeito que temos um pelo outro.

43-) RM – Fale do seu contato pessoal e profissional com Zizi Possi?

Curiosamente eu sempre fui bastante fã do trabalho da cantora Zizi Possi; mas foi em 1998, que surgiu o convite para integrar como tecladista sua banda e levar para o palco o belíssimo espetáculo PER AMORE, dirigido por José Possi Neto. Em 1991, por indicação do pianista Luís Avellar, eu quase trabalhei com Zizi; ela chegou a me ligar pessoalmente, mas eu estava na época tocando com o cantor e ator Fábio Júnior. Acabei declinando do convite. Ironicamente o Fábio demitiu a banda 15 dias depois da ligação de Zizi.

Logo em seguida  do espetáculo PER AMORE, mais especificamente em fevereiro de 2000, estréia o show ‘’Passione’’, o segundo show italiano de Zizi, que nos rendeu uma nova fase de shows pelo Brasil. Depois dos projetos italianos, ainda prossegui com Zizi levando para os palcos o CD BOSSA, que também nos rendeu mais uma boa fase de shows pelo país. De lá pra cá tenho acompanhado Zizi por outros projetos de carreira, sempre ao lado do maestro Jether Garotti Jr, seu fiel escudeiro, passando pelo comemorativo show de 30 anos de carreira CANTOS E CONTOS e atualmente excursionando pelo Brasil com o seu show de retrospectiva de carreira “TUDO SE TRANSFORMOU”.

44-) RM – Fale do seu contato pessoal e profissional com Toninho Horta?

Em agosto de 98, participei do show do compositor Toninho Horta em São Paulo, nas músicas ‘’”Manuel, o audaz”’’ e ‘’”Waiting for Ângela”, a convite do próprio Toninho’’: ‘’Fiz questão de citar aqui essa canja que dei no show do Toninho. Eu fiquei super nervoso, porque simplesmente a-d-o-r-o  o trabalho dele. Ele é perfeito em suas harmonias. São acordes de um bom gosto absurdo e ao mesmo tempo extremamente agradáveis ao ouvido; por mais complicado que pareça, soa simples. Toninho tem o  mérito da complexidade harmônica, embutida em sua alma; portanto não precisa parecer ser o que ele já é de fato!’’  Eu o conheci pessoalmente quando participei do festival de AVARÉ, com a canção “Cedo ou Tarde”, em 1996. Toninho fez a direção musical desse festival e lá pudemos estreitar nosso contato e admiração mútua.

45-) RM – Fale de sua experiência nos Festivais de Música?

Eu comecei em festivais de música. Minhas primeiras manifestações musicais foram através de festivais. Foi através dessa experiência que eu pude de fato ter certeza e convicção daquilo que eu queria na vida. Ser músico, compôr, criar, viver de música, viver para a música. Participei de muitos festivais, porém, só depois de um certo amadurecimento, eu pude colher bons frutos nessa trajetória. Mas foi em 1990, aos 26 anos, que tive uma premiação significativa na FAMPOP, festival de música da cidade de Avaré. A composição “Sonho Expresso” me rendeu o segundo lugar como melhor canção, além de proporcionar o prêmio de melhor intérprete para a cantora Lucila Novaes: … “Eu liguei para a Lucila e perguntei a ela qual era a tessitura de sua voz; eu disse que iria mostrar para todo mundo o quanto ela era capaz de cantar. E não deu outra! Sonho Expresso eu fiz especialmente para ela. E ela foi eleita melhor intérprete” …

Em 1996, participei novamente do festival de música da cidade de Avaré, com a música “Cedo ou Tarde”, em parceria com a letrista Rita Altério. Conquistei o terceiro lugar e premiei a cantora Daisy Cordeiro como melhor intérprete; recebi ainda o prêmio de melhor instrumentista e de melhor arranjo pela música “Foi Assim’’, de Rafael Altério: … “Eu fiquei muito surpreso com essa sucessão de prêmios, sinceramente! Eu tinha feito a música “Cedo ou Tarde” para a Daisy cantar e quando anunciaram o prêmio de melhor intérprete para ela, eu já estava felicíssimo, com sensação de missão cumprida e, de fato, não esperava mais nenhuma premiação. Foi aí então que, para minha surpresa…’’

46-) RM – Quais os seus projetos futuros?

Tem basicamente 2 projetos que estão sendo iniciados nesse ano de 2015. Um ainda na linha de Bossa Nova, mesclando música instrumental com faixas cantadas e outro projeto mais autoral, com canções inéditas, novas parcerias, muitas participações e a grande “novidade”, eu cantando.

47-) RM – Quais seus contatos para shows e para os fãs?

Meu Site que está sendo totalmente reformulado “https://www.kecobrandao.com.br“, minha fãpage no Facebook “https://www.facebook.com/kecobrandaomusica“, Meu Instagran  e meu email pessoal “[email protected]“.

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